No primeiro compromisso público do segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou referências diretas à disputa eleitoral e, no discurso em tom de despedida, disse ter feito um “mandato republicano”, sem discriminar qualquer partido político. Na cerimônia de batismo da plataforma da Petrobrás P-57, Lula falou para um grupo de cerca de 500 operários do estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis. “Fizemos um mandato republicano como o Brasil sempre deveria ter tido, com o presidente que tivesse. Duvido que um governador ou um prefeito, de qualquer partido, possa dizer na televisão que precisou de um real e o Lula não deu porque não era do partido dele. Eu não faço política assim. Tenho divergência com muita gente, mas como presidente trato todo mundo em igualdade de condições”, disse Lula. O presidente exaltou como um dos feitos de seu governo a aposta no aumento da participação da indústria nacional na construção de plataformas e voltou a criticar os antecessores por preferirem a importação de maior parte das embarcações e equipamentos. “O País estava se autodestruindo”, afirmou. “Um país que não exercita a capacidade intelectual de seu povo vai sendo tratado como se fosse insignificante.” Muito bem humorado, Lula brincou com o fato de que só governa até o dia 31 de dezembro. “No dia 31, quando der meia-noite, eu ainda não vou entregar a faixa presidencial. Estou pensando em colar a bichinha na barriga e sair correndo”, afirmou o presidente. Disse que, quando for um “cidadão comum”, quer ver quem vai convidá-lo para passeios e pescarias e, ao longo discurso, falou para a “peãozada” como um companheiro de fábrica. “Quero me despedir dizendo que o legado que quero deixar na cabeça de cada homem e cada mulher é a certeza de que não existe um ser humano inferior ao outro”, disse Lula. “Se eu pude ser presidente da República, qualquer um de vocês pode ser presidente, governador, prefeito”, encerrou o presidente. Ao elogiar a gestão do governador Sérgio Cabral (PMDB), reeleito no primeiro turno, o presidente fez uma referência indireta à necessidade de continuidade de seu próprio governo, citando a intenção de estender a experiência das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para todo o País. “Se Deus quiser, vamos fazer nas favelas de todos os Estados brasileiros”, declarou. Lula, no entanto, confundiu as comunidades onde há UPPs instaladas com outras que só receberam obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Lógico que tem criminoso, bandido, mas eu estou convidando vocês a subirem comigo e com o Sérgio a favela de Manguinhos, o Complexo do Alemão, o Pavão-Pavãozinho”, discursou Lula. Destas, somente o Pavão-Pavãozinho tem UPP e o Alemão é considerado o maior reduto de tráfico de drogas e de criminosos armados do Rio. O presidente destacou a nova forma de atuação da polícia nas áreas pacificadas, em parceria com os moradores. “Nós estamos dizendo para aquele povo de lá: ‘não vamos mandar a polícia apenas para bater. A polícia vai vir para cá para bater em quem tem que bater, proteger quem tem que proteger. O Estado tem que trazer para cá educação, emprego, decência’. É o que nós estamos fazendo em todas as favelas do Rio de Janeiro”, disse o presidente. Lula brincou com o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), que deixa o governo em dezembro e não se candidatou a nenhum cargo com mandato. O presidente deu a entender que, se a petista Dilma Rousseff for eleita sua sucessora, Hartung teria uma vaga no governo. “Vamos depois discutir na vida o que esse companheiro vai fazer”, disse Lula. Em seguida, emendou: “Certamente será meu ajudante nas pescarias que o Sérgio Cabral vai arrumar para a gente, quando a gente não tiver mais o que fazer.” Antes da cerimônia, Lula visitou durante mais de uma hora da P-57 e conversou com vários operários.
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